Food Rebelions

Publicado por em jan 17, 2011 em Mesinha de Cabeceira | 2 comentários

Estamos novamente vivendo um momento de crise alimentar, com alta nos preços dos alimentos, ou nunca saímos realmente da crise que supostamente estourou em 2007-2008?

Este livro, escrito por Eric Holt-Giménez, Raj Patel – ambos do Food First – e Annie Shattuck,  com um prefácio de Walden Bello, disseca o sistema alimentar vigente, a crise alimentar que enfrentamos, as rebeliões pela comida, as questões principais relacionadas à segurança e soberania alimentar, e mostra soluções que estão sendo encontradas e já em curso, principalmente por agricultores e agricultoras familiares no mundo todo.

Não é um livro fácil de ler, e em muitas partes, como o próprio autor diz em sua palestra, pode ser bastante depressivo. Para mim, a parte mais pesada é quando descreve a África e as conexões que muita gente nem sonha, entre investidores, bancos, grandes corporações, institutos e fundações, para implantar a Revolução Verde (AGRA) no continente. Confesso ao terminar esta parte, saí deprimida do metrô, quase convencida de que tudo está perdido. Mas apesar de difícil de ler, o livro te prende, é daqueles que te deixa querendo saber o que vem depois. E tem muitos exemplos virtuosos para te deixar mais aliviada e pensar que existe solução, só falta vontade política.

O livro é escrito em um formato acadêmico, com muitas fontes de pesquisa e referências, links e quadros. Se você consegue passar da primeira parte (A Verdadeira História da Crise Alimentar Mundial), a segunda parte é mais prazerosa (O Que Podemos Fazer), que descreve uma série de exemplos virtuosos no mundo, o movimento pelo alimento (Food Movement), a verdadeira rebelião, talvez mais timidamente do que eu esperava.

Senti falta do Brasil no livro. Nosso país é citado como referência de movimentos sociais – principalmente o Movimento Sem Terra e a Via Campesina – e a relação entre biocombustíveis, a produção de soja e o desmatamento de nossos biomas. Seria interessante se falasse também sobre a atuação dos Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional, o movimento agroecológico, e os programas de fomento à agricultura familiar e à segurança alimentar e nutricional. Daria um capítulo inteiro.

Ao meu ver é leitura obrigatória para quem quer entender melhor o sistema alimentar no mundo e a crise alimentar que estamos vivendo. Li uma versão em italiano, publicada pela Slow Food Editore, que comprei durante o Terra Madre 2010. Não encontrei em livrarias do Brasil, só na Amazon e no próprio site do Food First.

Eric Holt-Giménez fala, em uma excelente palestra, sobre os assuntos do livro em um vídeo de pouco mais de uma hora e meia (em inglês, sem legenda):

Food Rebellions! Crisis and the Hunger for Justice – Seattle, WA from Food First on Vimeo.

2 Comentários

  1. Uma entrevista com Raj Patel, sobre as revoltas em Moçambique e as Rebelions pela Comida:
    http://www.democracynow.org/2010/9/8/raj_patel_mozambiques_food_riots_are

  2. Um excelente texto do Eric Holt-Giménez sobre as rebeliões alimentares e 7 passos para resolver a crise alimentar foi publicado aqui: http://www.yesmagazine.org/issues/food-for-everyone/food-rebellions-7-steps-to-solving-the-food-crisis (em inglês).
    Abaixo uma tradução livre dos 7 passos propostos:
    “As soluções para a crise dos alimentos são aquelas que melhoram a vida dos agricultores familiares: re-regular o mercado, reduzir o poder dos complexos agroindustriais de produção de alimentos, e fortalecer a agricultura familiar ecológica. Aqui estão alguns dos passos necessários:
    1. Apoiar a produção de alimentos domestica;
    2. Estabilizar e garantir preços justos para os agricultores e consumidores através do re-estabelecimento de preços base e reservas de grãos de domínio público. Estabelecer salários mínimos para os que trabalham na produção rural, no processamento e nos supermercados;
    3. Parar a expansão dos agrocombustíveis;
    4. Frear a especulação nos alimentos;
    5. Promover o retorno às pequenas propriedades rurais. Em uma base de libra-por-hectare, a agricultura familiar é mais produtiva do que as fazendas industriais de produção de alimentos em larga escala. E usam menos combustíveis. Devido ao fato de que 75% dos pobres do mundo são agricultores, esta medida irá tratar da pobreza também;
    6. Apoiar a produção agroecológica;
    7. Soberania alimentar: reconhecer o direito de todos os povos ao alimento saudável e culturalmente apropriado, produzido através de métodos agroecológicos e seus próprios sistemas alimentares.
    A vontade política para adotar estes passos deve vir de movimentos sociais informados. Estes movimentos já existem, e estão ganhando força face à crise dos alimentos. Juntos podemos consertar o sistema alimentar e resolver o problema da crise alimentar de uma vez por todas.”

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