Pão do Desgosto

Publicado por em jul 18, 2004 em Blog | 4 comentários

Satish Kumar

O ato de fazer pão nos conecta com nossas raízes ecológicas

Resurgence issue 207

PÃO É UM GRANDE NEGÓCIO, se é bom ou não para nós, não podemos mais estar certos. Uma coisa é certa: um pedaço de pão contém mais poluição do que nutrição, mais lucros que alimento e mais substâncias químicas que sabor.

Se foram os dias que tinhamos tempo para assar nosso próprio pão, quando o aroma saudável de pão preeenchia a cozinha, quando cada pão era diferente e quando fazer pão era uma experiência estética e criativa. Também se foram os dias que podiamos andar até a padaria local e aprecial o prazer de ver e cheirar o pão assado na hora, organizado em prateleiras de madeira, conversar com o padeiro e os vizinhos. Estes eram dias nos quais a padaria era o centro da comunidade local. Hoje em dia apenas 4% do pão é feito em pequenas padarias; 86% do pão é produzido em massa, em condições industriais.

A diversidade de pães disponíveis era um símbolo de diversidade cultural. Variedades regionais representavam diversidade de grãos, bem como diversidade de estilo. Agora, onde quer que você esteja, você pode comprar o mesmo tipo de pão, de um número limitado de marcas como “Orgulho de Mãe” — mas nenhuma mãe se orgulharia dessa coisa horrível. Onde está nossa mãe e onde está seu orgulho? Nós não somente temos a corrupção de nosso alimento, mas também corrupção de nossa língua.

Treze grandes indústrias controlam o mercado de pão de mais de 3 bilhões de libras ao ano. Eles vendem aproximandamente 10 milhões de pães a cada dia, envolvendo nem “Mãe” e nem “orgulho”. Nossa nação como um todo deveria estar envergonhada de tal pão — não orgulhosa! Talvez “Orgulho de Mãe” deveria ser renomeado para “Vergonha de Mãe”? Deveríamos estar envergonhados, porque a qualidade do pão deteriorou-se dramaticamente no decorrer dos anos. Nosso pão é envelhecido e estéril. É tão desprovido de qualquer vida que os produtores de pão tem que adicionar artificialmente vitaminas e minerais no pão que vendem. Mesmo assim, com uma publicidade massiva, as pessoas estão sendo enganadas ao comer o que é uma desgraça nacional.

Eu estou constantemente surpreso que uma sociedade cristã possa toleraf tamanha desconsagração e degradação do pão, que era considerado tão sagrado que os cristãos celebravam a comunhão com ele. Agora, já que não há nenhum pão de verdade a volta, usa-se a óstia.

Caminhões cheios de pães industriais correm para cima e para baixo do país nas auto-estradas, poluindo o ar para que possam fornecer pão barato para a nação. Mas as mentes inteligentes não veriam esse pão como barato. O preço que pagamos em termos de saúde e meio ambiente é muito alto. O pão em nossa mesa viajou centenas de milhas.

Se comermos pão fresco, bom e saudável, produzido em casa ou localmente, as taxas de câncer diminuirão; as taxas de doenças coronárias cairão. A nação não precisará pagar taxas tão altas para pagar a grande quantia de dinheiro para medicamentos e hospitais. Haverá menos depressão a mais alegria na vida. Menos congestionamentos em nossas estradas e um ar mais puro para respirar. Um bom pão é medida essencial para a saúde. O NBS (“Serviço Nacional do Pão) fará o NHS (Serviço Nacional de Saúde) mais bem sucedido.

Prestando atenção ao bom pão podemos combater companhias que produzem trigo geneticamente modificado, multinacionais que patenteiam sementes, podemos sustentar produtores de pequena escala, métodos orgânicos e locais de produção do trigo, em oposição a monocultura das pradarias dos Estados Unidos e Canadá. Como podemos lançar tal REVOLUÇÃO DO PÃO? Talvez pudessemos ter uma “Campanha para o Pão Verdadeiro”, como a “Campanha para a Cerveja Verdadeira”? Precisamos organizar um boicote ao pão industrial. Que tal um adesivo no carro: “Traga de volta a padaria local”?

Nossas escolas seriam um bom local para iniciar. Não podemos fornecer boa educação com pão ruim. Deixemos cada escola ensinar as crianças a arte e ciência da panificação. Deixemos que o almoço das escolas soja baseado em um bom pão. Assar pão não é uma perda de tempo; é a fundação de uma boa educação. Deixemos o aprendizado ser liderado pelo pão.

Todo ambientalista tem que fazer tempo para preparar o pão. Mahatma Gandhi, na Índia, fez da fiação um ato de desafio contra o colonialismo opressivo. O roda de fiar se tornou o símbolo do movimento de independência. Da mesma forma, o pão de qualidade deverá se tornar o símbolo do ambientalismo. Não deveria haver nenhum sanduíche de pão branco nos escritórios do Greenpeace ou Friends of the Earth. Pão feito com farinha orgânica, moída com moínho de pedra, deveria ser facilmente encontrado nas padarias das vilas. Farinha branca que é branqueada com dióxido de cloro é tóxica. Este fato deveria ser tornado público. Pão branco é o pão amargo do desgosto.

Uma vez E.F. Schumacher foi convidado a um jantar prestigioso. O anfitrião serviu pão ultra branco. Qualquer sinal de casca foi removido. Próximo ao pão estava um guardanapo branco. Havia pouca diferença entre o pão e o guardanapo. Para mostrar seu ponto de vista, Schumacher começou a passar manteiga no guardanapo. O anfitrião embaraçado apontou o pão a Schumacher. Este pareceu surpreso e disse que quando não somos capazes de diferenciar entre o pão e um guardanapo, perdemos algo precioso.

Temos que começar com um bom pão se queremos restaurar a saúde física e mental da nação. Quando estamos cientes da qualidade do pão, estaremos cientes da qualidade do alimento. Quando estamos cientes da qualidade do alimento, estaremos cientes da qualidade da vida em geral.

A qualidade do pão é muito importante para ser deixada nas mãos das industrias de pão — sua primeira motivação é ter lucros ao invés de fornecer pão para a saúde da população. Assando seu próprio pão e pães produzidos na pequena padaria local são as únicas duas opções para nos libertar do monopólio do grande negócio do pão. O primeiro passo para a autonomia individual e da comunidade local é tomar de volta nosso direiro básico de acesso a um bom pão. Um pão saudável é direito de todos.

Satish Kumar é Editor da revista Resurgence

Resurgence vol 207

4 Comentários

  1. E a gente acha que está se alimentando bem!
    Artigo muito interessante!

    Zéca

  2. Meu…”get a life!!!”
    Que artigo mais idiota!!!..Milhoes de pessoas morrem de FOME todos os dias, e dariam a vida por um pedaço de pão,independentemente dele ser industrial ou artesanal. Talvez você devesse se preocupar com algo mais importante do que pão!

  3. Luca
    Será que você realmente leu o texto? Se leu, será que você entendeu e pensou bem antes de escrever seu comentário?
    Te convido a voltar mais vezes, e ler outros artigos desta página.
    Abraços solidários e cordiais

  4. É bom podermos contar com pensamentos assim, cuidar da saúde e da natureza é fundamental para todos nós, com toda a certeza isso deveria ser levado as escolas, não podemos apagar essa idéia ! que Deus abençoe a todos !!!

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