*Escrevi esse texto para ser publicado em um site de notícias ambientais. Mas não deu certo, e para salvar o trabalho e o levantamento das informações junto às pessoas do Slow Food, o publico aqui.
Todos os personagens do Natal estão aí mais uma vez, Papai Noel, pinheiros enfeitados e flocos de neve. Mesmo embora no Brasil seja verão, e quase não haja pinheiros nem muito menos neve no país, é assim que a marca da data – mais conhecida como “espírito natalino” – domina a paisagem. E não é só isso. Muitas famílias já planejam, como no ano passado (e no ano anterior e no outro), preparar o peru da ceia. Ao lado dele, ameixas, uvas, cerejas, tâmaras, nozes, avelãs. Quanto estrangeirismo, não?
A chef de cozinha Maria do Céu Athayde tem outros planos. No cardápio que ela fez para a noite de festa, tem aruanã e pirarucu, palmito pupunha, arroz com castanha da Amazônia e purê de batata doce com laranja. De sobremesa, mousse de tucumã, fruto de uma palmeira amazônica. Faz tempo, Maria do Céu procura usar matéria-prima regional para fazer seus pratos. “Após meu primeiro contato com o Slow Food , tive a confirmação de que havia escolhido o caminho certo”.
Uma das características desse movimento, que nasceu em 1986 na Itália como contraponto à pasteurização do fast food, é justamente a valorização da identidade cultural, via alimentos e receitas locais, regionais, nacionais. Maria do Céu, que dirige o Centro de Gastronomia da Amazônia, em Manaus, já era Slow Food antes, portanto, de conhecer Margarida Nogueira, que trouxe a organização para o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro. “Fazer um Natal Slow Food não é fácil. A influência européia é muito forte na nossa cultura. Num país tropical, herdamos receitas de clima frio”, diz Margarida. “O negócio é ter criatividade, abusar das nossas frutas e usar o bom senso”.
Além das tradições gastronômicas, há uma longa lista de propostas defendidas pelo Slow Food, no Natal e sempre. Comida “boa, limpa e justa” é o mote, que já explica muita coisa. O alimento saboroso, saudável, que não agride o meio ambiente, e que respeita os direitos dos produtores e dos consumidores, é o alimento ideal. Mas ninguém está ali para culpar nem para pôr o dedo na cara dos outros, afirma Piero Sardo, presidente casino online da Fundação Slow Food , braço fundado em 2003 para apoiar projetos de defesa da biodiversidade agrícola.
De qualquer maneira, todos são responsáveis por aquilo que consomem, principalmente na medida online slots em que o Slow Food enxerga os consumidores como co-produtores. E foram esses co-produtores de todo o mundo contribuíram para que a agricultura e a alimentação se tornassem o que são hoje: uma grande massa homogênea. Ou você acha que comer quase todo dia o mesmo tipo de batata, alface, tomate e pepino, arroz, feijão, The Trans Union Truck dmv practice test offers a. carne de vaca, cenoura, chuchu, maçã, pêra, abacaxi… não é viver na mesmice? No Brasil há frutas das quais poucas pessoas sequer ouvem falar, assim como verduras, legumes ou castanhas, e mesmo receitas tradicionais. Por exemplo? Feijão canapu, arroz vermelho, baru, araticum, macaúba, ouricuri, inhambu, araçá-boi, bacaba…
A alimentação homogeneizada também não é interessante do ponto de vista do meio ambiente, da saúde ou mesmo da economia. Só a agricultura diversa permite o cultivo agro-ecológico, aquele que não esgota recursos como solo e água, e que permite a continuidade da própria agricultura, independente das toneladas de agrotóxicos utilizadas pelos cultivos convencionais. Só ela pode ser realmente saudável, e só ela não torna o produtor, seja ele grande ou online casinos pequeno, dependente de um único tipo de produto, nem de sementes “melhoradas” por indústrias do agronegócio, ou de herbicidas fabricados por essas mesmas empresas.
Por outro lado, encontrar esse alimento “bom, limpo e saudável”, e ainda por cima diverso, não é moleza. Eles geralmente são mais caros, e não estão em toda parte. Somente algumas redes de supermercados ou feiras especiais os comercializam. Outra casino online alternativa, que cresce bastante na Europa e principalmente nos EUA, são as feiras de produtores. Lá, os consumidores estão online casino nbso em contato direto com aquelas pessoas que produzem os ingredientes de suas refeições, e a relação de confiança que se cria a partir desse espaço às vezes elimina até trâmites best online casino bem-vistos como a certificação – procedimento que tem sua importância, mas que encarece o produto. Para Roberta Marins de Sá, coordenadora do Slow Food no Brasil, além disso, é mais interessante saber a origem do produto, conhecer como ele é produzido, dialogar com os produtores e até visitar o local da produção.
“Em vez da certificação, a auto-regulamentação é a melhor forma de funcionamento das feiras de produtores”, afirmou Piero Sardo, da Fundação Slow Food, em um encontro de pequenos produtores promovido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário no fim de novembro, em Brasília. “O próprio produtor é responsável por que seu produto tenha êxito”. O evento, chamado Salão Nacional dos Territórios e inspirado no encontro internacional que o Slow Food promove a cada dois anos ( Terra Madre ), serviu para a troca de idéias entre produtores de 118 locais diferentes de todo o país. Lá, também foi levantada a possibilidade de se incentivar as feiras de produtores no Brasil.
Em outra frente, atuam os chefs de cozinha adeptos do Slow Food. Teresa Corção, proprietária do restaurante O Navegador , no Centro do Rio de Janeiro, de vez em quando promove eventos a fim de divulgar o prazer da boa mesa junto dos amigos, assim como os ingredientes bem brasileiros que incorpora na sua culinária. Em maio, durante uma semana dedicada ao Slow Food, colocou à venda vários desses produtos, enviados por agricultores de várias partes do país. Todos eles trabalham, de maneira ecologicamente sustentável, com o cultivo ou a coleta de produtos únicos em sabor. Além disso, recebem uma remuneração justa pelo seu trabalho. A idéia fez sucesso e agora Teresa corre atrás para incorporar a oferta desses produtos ao restaurante.
Mas no momento, a chef está mesmo é concentrada no projeto do Natal Slow do Navegador. Ela dá até receita: “é só trocar o excesso de elementos quentes (nozes, gorduras, especiarias quentes) por elementos mais tropicais (frutas frescas, entradas geladas, carnes leves)”. “Além disso, devemos usar os produtos com nosso DNA gastronômico, como queijo minas, castanha do Pará, caju passa, castanha de baru, tangerina montenegrina, cupuaçu etc”, afirma. E brindar com um bom espumante que, segundo ela, é o melhor vinho nacional. Tim-tim! E sem nenhuma pressa. Sem dúvida, é uma receita que vale para o reveillón, ou para qualquer outra festa com alguma comilança.
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