Tributo ao Terra Madre

Publicado por em mar 4, 2010 em Blog | 3 comentários

Um relato pessoal de como a Rede Terra Madre mudou meus rumos e continua me emocionando.

Há poucos dias do II Terra Madre Brasil, me pego pensando em como a oportunidade de participar desta Rede fantástica mudou a minha vida … para sempre. Fiquei com vontade de relembrar os momentos importantes, contar minha história.

Para mim tudo começou na Escócia, em 2001, quando li um artigo sobre o Slow Food e o Carlo Petrini no The Guardian. Cientista de alimentos, vegetariana, curiosa e muito preocupada com a qualidade de vida, me interessei pelo assunto e passei a acompanhar o site do Slow Food Internacional. Naquela época não tinha twitter, nem RSS, acompanhar significava visitar regularmente. Assinei a The Ecologist, e em abril de 2004 o Slow Food estampava a capa, com uma reportagem extensa sobre o Slow Food e os trabalhos junto aos pequenos produtores.

Em julho de 2004 eu já estava escrevendo a tese e preocupada com a volta ao Brasil. Quatro anos fora, sem vínculo com nenhuma instituição, o que eu iria encontrar? Na época, parecia natural seguir uma destas duas opções: trabalhar na indústria cervejeira ou ir para o mundo acadêmico. E nenhuma delas me agradava.  Foi neste ponto que li, extasiada, a notícia sobre o I Terra Madre em Turim. Escrevi sobre isso aqui, e coloquei na cabeça que eu tinha que participar. Seria a chance de conhecer comunidades do alimento brasileiras, saber o que estava se passando no país, encontrar uma outra perspectiva para usar o conhecimento que eu havia acumulado durante tantos anos de estudo.

Pouco tempo depois, numa sexta-feira à noite, um anúncio para voluntários. Era a minha chance! Enviei o formulário imediatamente e na segunda-feira liguei. Falei com a Simona, que me informou que as inscrições haviam se encerrado na quinta-feira anterior. Ah, não!!! Como eu insisti! Liguei mais algumas vezes até que ela disse que se eu pudesse ir por conta própria, poderiam abrir uma exceção. Ufa!

A defesa da tese de doutorado foi marcada para 04 dias antes do evento. Foi uma correria. Defendi a tese, fiz as pequenas correções imediatamente, levei as cópias para encadernar, aluguei um amigo para ir buscar (detalhe, era o ultimo prazo para entregar a tese na universidade, senão o título de Doutor só viria no outro semestre) e fui.

Acho que é verdade o dito de que “a primeira impressão é a que fica”. Até hoje me arrepio quando me lembro dos momentos que passei lá. Junto com outros 04 voluntários italianos, estava responsável pelas delegações do Chile, México, Bolívia, Azerbaijão, Uzbequistão, Líbia, e alguns italianos. Na cerimônia de abertura, a tarefa era entregar um ramalhete de flores nativas para as mulheres que entravam.  Logo que cheguei, coloquei algumas fotos aqui.

Lá conheci alguns amigos: a Cristina, voluntária italiana que falava português, Luis Carrazza (hoje coordenador da Central do Cerrado), Mauricio Fonseca (coordenador da Fortaleza do Palmito Jussara), falei com a Vandana Shiva, e tive a certeza que o que o pouco conhecimento que eu tinha deveria ser aplicado no apoio aos pequenos produtores. Como recompensa, ganhei a associação ao Slow Food por um ano. Meu primeiro convivium foi o Slow Food Edinburgh.

A volta ao Brasil foi em abril de 2005, com planos de trabalhar com uma comunidade do alimento no Cerrado, morar em uma cidade pequena. Mas uma coisa foi levando à outra e quando me dei conta, em julho já estava sendo contratada como consultora no MDA e iniciando a coordenação dos projetos do Slow Food no Brasil.

Poucos meses depois, com pouca experiência, iniciamos a preparação para o Terra Madre 2006. O trabalho principal era re-conectar com as comunidades que foram para o encontro de 2004, identificar outras comunidades, e organizar a viagem de 150 pessoas para a Itália, dentre elas muita gente que nunca tinha viajado de avião. Desta vez também foram incluídos os Chefs de Cozinha na rede, e para isso pedi ajuda da Margarida Nogueira (líder do Slow Food Rio de Janeiro), Chef Teresa Corção e do Chef Francisco Ansiliero. Em meio a tudo isso, recrutei ainda dois voluntários, o Marcos e o Fred.

 

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Foi muito trabalho! Não vi nada do encontro, foi só correria. Fotos eu não tenho (roubei as do Marcos), que vc vê acima. Nessa época o Slow Food Brasil não tinha site, e a Elisa França, jornalista que foi conosco, escrevia as notícias sobre o evento no Alimento para Pensar (leia aqui). Revi velhos amigos (a Cristina estava lá) e encontrei novos amigos (conheci o Chef Faustino). A frase que me vem à mente para resumir tudo é “como é difícil agradar a Gregos e Troianos”.

Em 2007 realizamos o I Terra Madre Brasil. Que desafio, que aventura. Com uma equipe super enxuta, formada pela Katia Karam (Slow Food Pirenópolis), Marcia Riederer e Guilherme Hamu, na época meu estagiário, nos desdobramos para fazer o melhor possível. Da Itália tínhamos o apoio da Lia Poggio, que nos últimos dias se juntou a nós aqui no Brasil.

 

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Sabendo como a minha experiência como voluntária no Terra Madre mudou completamente a minha vida pessoal e profissional, logicamente que recrutamos voluntários para o I Terra Madre Brasil. Foram muitos candidatos, ao final selecionamos 35, que salvaram o evento, fizeram de tudo. E muitos deles se integraram à rede. Foi aí que conheci a Juliana de Andrade, a Alessandra Teixeira, o Eduardo Lopes, a Chef Adriana Lucena. Adriana fundou o Slow Food Potiguar, e nós (Juliana, Alessandra, Eduardo, Guilherme e eu) mais tarde, fundamos o Slow Food Cerrado.

O encontro foi ótimo, superou as expectativas, mas a frase que ficou foi “é quase impossível agradar a Gregos e Troianos”

Em 2008 mais um encontro na Itália. A organização da delegação brasileira começou logo em fevereiro, e parece que foi pouco tempo para fazer tudo. Nesta época a Karla, estudante de comunicação social, trabalhava comigo como estagiária. Fez um excelente trabalho, entrevistando os participantes antes do evento. Desta vez levamos também jovens e músicos. O grupo era muito diverso. E uma viagem inesquecível: 100 pessoas no mesmo vôo de São Paulo até Milão. Que festa! No avião tinha até o cantinho da piada.

Do Terra Madre em si não vi quase nada. Revi muitos amigos, fiz novos amigos, como o Fulvio, que agora mora no Brasil. Do Salone Del Gusto só vi a desmontagem. Fiz questão de ir assistir a palestra do Satish Kumar, no dia seguinte ao encerramento do Terra Madre. Aliás, o encerramento foi fantástico, com músicos de todo o mundo se revezando no palco. Só tenho estas fotos abaixo, e a frase que ficou foi: “impossível agradar a Gregos e Troianos”.

 

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Faltam poucos dias para o II Terra Madre Brasil, e pela primeira vez eu não estou envolvida com a organização. Agora estou do outro lado, o da expectativa. Não vejo a hora de rever os amigos, saber o que está acontecendo nos territórios das comunidades do alimento e recarregar as baterias.

Quem sabe este encontro não muda novamente os meus rumos?

3 Comentários

  1. Interessante o poder que o Terra Madre tem em mudar vidas…na verdade talvez mudar não seja a palavra…é o fato de você poder encontrar pessoas que falam sobre o alimento e pensam sobre o alimento o tempo todo.Eu fui voluntária em 2007 e estive em Turim em 2008.No meu baú de memórias cabem tantas pessoas do Terra Madre.Pessoas passionais em relação a comida como eu,Chefs que são” Chefs” o tempo todo e não só quando precisam sair em revistas e agricultores que dão uma aula de vida além daquela pessoa comum que após uma breve conversa observei que ela não é pessoa tão comum assim!

    De coração aberto esperando o próximo.

  2. Ahi Roberta..
    ainda lembro o nosso primeiro encontro no Terra Madre 2008 em Turim. Se nao fosse para a carona do vosso onibus..
    Lembro com muita clareza a sua pergunta logo depois da palestra do Satish Kumar: “Fulvio, o seus projetos no Brasil?”..ainda nao sei com clareza, com certeza tentar encontrar quanto mais pessoas virtuosas, que com sacrificio, honestidade e amor pela mae terra, vivem o cotidiano na esperança de deixar um mundo melhor para futura geraçoes.
    Atè logo Roberta.

  3. Minha ARCA a cada dia enche mais de conhecimentos, amigos, alimentos fantásticos…. todo dia estou conectada com a TERRA MADRE em todos os sentidos que se possa imaginar: como produtora rural, como cozinheira, como feirante, como consumidora, como divulgadora da filosofia Slow Food, com gente…
    E isso tudo eu devo a voce, Roberta, que com muita pacencia me respondia as dezenas de emails que lhe mandava perguntando sobre tudo e que me levou como voluntária pro Terra Madre Brasil 2007.
    Faltam poucos dias pra encontrarmos de novo: vc, Juliana, Fulvio, Gulherme, Kátia, Neide… todos!
    estou anciosa para abraça-los.
    bjs, adriana
    p.s.: nem precisava contar, porque vc já devia imaginar… terminei de escrever chorando, né?

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