Quando era pequena, passava as férias em Brasília. Naquela época a cidade era muito diferente, com menos carros, menos gente…e parecia fantástica para quem morava no interior de São Paulo, onde havia apenas um prédio e um elevador.
Uma noite em Brasília, em frente ao Palácio da Justiça, vi a tal Justiça, sentada em seu banquinho e com os olhos vendados. Meu pai então me explicou que a justiça é cega, não vê cor, raça, status, classe social….é igual para todos.
Mais tarde, naquele mesmo ano, eu me preparava para fazer, junto com minha melhor amiga de infância, uma viagem de ônibus. Íamos as duas, sozinhas, de ônibus para São Paulo. Mas para isso, precisava de uma autorização dos meus pais que se tirava no Fórum da cidade. Minha mãe parou o carro na frente do Fórum (nosso Palácio da Justiça) e pediu para eu ir buscar o tal formulário. Tranqüilo, cidade pequena, todo mundo sabia quem eu era, de quem era filha. Mas o segurança da porta disse que eu não poderia entrar, porque estava usando shorts. Para entrar eu teria que mudar de roupa, colocar uma saia ou calça. Eu imediatamente perguntei: “Mas a Justiça não é cega?”. Gargalhadas a parte (do segurança), eu tive que voltar para o carro, ficar com meu irmão enquanto minha mãe, que estava vestindo calça comprida, entrou lá para pegar o tal formulário.
Hoje passo na frente da Justiça para trabalhar, diariamente. Ela continua lá, sentada, com os olhos vendados. Mas será que ela é mesmo cega? Estou começando a duvidar.
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